domingo, 18 de dezembro de 2011

Falta Responsabilidade Social à Copa do Mundo de 2014

Que brasileiro não deseja que a Copa do Mundo de 2014 seja realizada aqui no Brasil? Todos gostamos e queremos que a Copa do Mundo de 2014 seja aqui no Brasil. Todos queremos participar da Copa, assistir aos jogos, torcer pela seleção brasileira, “secar” a seleção da Argentina, França e outras tradicionais rivais da nossa seleção.
Contudo, não podemos fechar os olhos para a nossa realidade social e nos comportarmos como bestas anestesiadas pela paixão futebolística, em êxtase pela possibilidade de participar desse evento.
Ao analisarmos o projeto da Copa, observamos que os números que o envolvem são astronômicos, mirabolantes. Estádios sendo construídos por milhões e milhões de reais, quantias da mesma magnitude gastas na ampliação e modernização de aeroportos. Um sem número de obras em andamento em cidades nas quais o sistema de saúde, a segurança, a educação, o saneamento básico estão simplesmente d e t e r i o r a d o s ou não existem. Isto mesmo, deteriorados ou inexistentes. Ratificando o bordão do Boris Casoy, infelizmente temos que admitir que isso é uma vergonha!
Como uma instituição que se diz séria, a Federação Internacional de Futebol, FIFA, deveria, isto sim, condicionar a realização do evento, em qualquer país, ao funcionamento, no mínimo, adequado de serviços sociais básicos como a educação, saúde, segurança e saneamento.
No caso do Brasil, antes de qualquer imposição externa, nossos governantes, autoridades constituídas deviam se antecipar a esta vexaminosa situação, evitando este dualismo infame – de um lado a construção de estádios faraônicos, do mesmo lado, pessoas amontoadas em hospitais sem leitos para acolhê-las, morrendo por falta de atendimento em corredores infectos que bem podem ser considerados vestíbulos para a morte. Estados onde as pessoas morrem em táxi enquanto andam de hospital a hospital, sendo rejeitadas por falta de ínfimas condições de socorro médico, ou de leitos em unidade tratamento intensivo.
No Rio de Janeiro, as pessoas continuam morrendo de dengue enquanto são gastos rios de dinheiro na modernização do Estádio Maracanã.
Diante desses descasos com os brasileiros, é preciso que a sociedade se organize para dar um choque de amor neste país, onde impera a corrupção e o desleixo com a coisa pública. É necessário que a sociedade brasileira, num ato de amor ao país, se manifeste contra a indiferença das autoridades com todos os tipos de atos de vergonhosos cometidos por políticos, como nunca se viu na história deste país.
Urge que se cobre da FIFA medidas de responsabilidade social com o povo brasileiro, ao invés de ficar solicitando à presidenta para suprimir direitos que há muito tempo foram conquistados. Basta de pensar no povo brasileiro apenas como uma mina de dinheiro sempre disposta a encher o cofre de uma malandragem de black tie.
O governo brasileiro poderia construir hospitais públicos com a mesma desenvoltura que está construindo estádios para entregá-los posteriormente à subutilização. Poderia construir presídios decentes para colocar criminosos que estão espalhados pelo Brasil em cadeias superlotadas, em que os presos resistem às condições subumanas. Esses presídios devem ser aproveitados também para colocar a bandidagem de colarinho branco, responsável pelos escândalos de corrupção que eclodem semanalmente. Os bancos brasileiros que estão apoiando esses empreendimentos, poderiam investir com a mesma disposição na implantação de redes de esgoto, aterros sanitários, em todo território nacional, com vistas minimizar ou mesmo acabar com a ocorrência de doenças como a dengue, a leptospirose, e tantas outras cuja ocorrência é favorecida pela falta de saneamento básico.
Os dirigentes deste país precisam atentar para o fato de que são mandatários do povo para que trabalhem e não para se aproveitarem do cargo para cometerem toda ordem de ilícitos.
Costumo dizer que a corrupção é a mais danosa praga que este país possui. Não há intempérie climática como secas, enchentes ou terremotos que cause mais danos ao povo brasileiro. A região serrana do Rio de Janeiro é um exemplo vivo e recente da malignidade da corrupção no Brasil. Apesar da quantidade de vidas ceifadas pela catástrofe, do número de desabrigados, da destruição de quase toda infraestrutura daquela região, até hoje as pessoas estão ali em estado de calamidade pública, enquanto administradores públicos deram sumiço a mais de seis milhões de reais destinados à reconstrução das cidades atingidas. Enquanto isso, o Japão que num período recente passou por uma tsunami de grande proporção, já está praticamente recuperado.
Por tudo isso, pode-se inferir que a Copa do Mundo de 2014 no Brasil está sendo organizada em detrimento do povo brasileiro, à proporção que está subtraindo deste, moradia, saúde, segurança, salário, emprego, e o pior, dando margem para que empreiteiros inescrupulosos façam obras superfaturadas. É muito desamor.
Todos os brasileiros que amam este país devem de alguma forma externar o seu descontentamento com tudo isso e exigir das autoridades nacionais e internacionais ação que impeça a continuidade desse tipo de procedimento que menospreza a necessidade da população para servir aos interesses da corrupção.
Nada justifica que se faça um empreendimento internacional da magnitude da Copa do Mundo, sem ações de responsabilidade social dirigidas a beneficiar o povo do país anfitrião. Portanto, seria de bom alvitre que a FIFA, a Presidência da República, Ministério do Esporte, Confederação Brasileira de Futebol – CBF, governos dos estados anfitriões e todas as autoridades envolvidas neste projeto repensem-no. Pois no centro de cada ação deve estar o povo brasileiro.

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