segunda-feira, 13 de junho de 2011

Codozinho: o lugar e as suas personagens

Antes de mais nada, aceitem as minhas desculpas.
Quando me foi sugerido falar sobre o Codozinho e sua gente, na verdade, as pessoas estavam sugerindo que eu falasse de Carmem Trovão, Catá e tantas outras pessoas que por ali passaram. Figuras cujos maiores feitos eram coisas ditas “engraçadas” ou sem graça dependendo do olhar ou do ângulo que se observasse os fatos.
Carmem Trovão, era uma senhora que fora apelidada de trovão pela voz gutural que possuía. Solteira, se dizia moça velha, morava só com o pai, seu Honorato. Carmem brigava até com a sombra dela. Detestava quando alguém a chamava pelo apelido de Trovão. Parava no meio da rua, mandava que a pessoa que o apelidara fosse apelidar a mãe, proferia palavrões de toda natureza e deitava falação.
Isso é tudo que a molecada de rua deseja, quando apelida ou faz escárnio de alguém. Carmem era um prato feito para a rapaziada que gostava desse tipo de brincadeira. A rua parava, quando Carmem trovejava palavrões, ou pegava pedras para jogar em quem lhe apelidava.
Catá, era o apelido de Osmarzinho. Um rapaz que tivera uma infância feliz. Jovem conhecidíssimo na Praça do Cemitério e redondezas, nos anos 1970/1980. Dizia-se que ele era uma presença marcante nas festas jovens da época. Dançava bem, vestia-se bem, namorava sempre as meninas mais bonitas, era um jovem igual a tantos outros da sua época. Ouvi falar que uma vez se empolgou dançando twist numa festa da vizinhança, escorregou e foi parar dentro da cristaleira da dona da casa. Falava-se muitas coisas engraçadas sobre o cara, mas estes escritos, são antes de qualquer outra coisa, uma forma de homenagear pessoas do Codozinho que tiveram alguma relação com a Turma do Saco. Este não é o caso de Osmarzinho.
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Francisco de Assis Sousa Cavalcante, nosso saudoso Assis. Pôxa, camarada, falar de você não é algo muito fácil para mim. A cada frase sinto os olhos úmidos, porém é necessário conter a minha emoção e te prestar esta homenagem.
Poucos componentes da Turma do Saco foram tão entusiasmados como Assis. Assis possuía uma força interior, uma coragem, uma empolgação, um otimismo como eu jamais observei em qualquer outra pessoa existente no Codozinho da minha época.
O entusiasmo de Assis era algo tão intenso, contagioso, tão positivo e alegre, que superava quaisquer dificuldades da nossa querida Turma do Saco. Foi o entusiasmo, a coragem, a dedicação de Assis que levou a Turma do Saco de um simples bloco suburbano para o bloco organizado de maior mídia em São Luís. Logo que percebemos que para vencermos o nosso mais competente concorrente era preciso algo mais do que botar o bloco bonito na rua, mapeamos todos os programas musicais de São Luís e fomos de emissora a emissora, programa a programa, levando convites de festas, ou rodas de samba na Turma do Saco para os locutores.
A ideia era dele, mas, em reunião, todos percebemos que era uma ideia fértil, prolífera. Todos apoiamos. Saímos no carro dele e fomos entregando convites. De pronto, os resultados foram aparecendo. Alguns locutores anunciavam a nossa passagem no programa e agradeciam no ar.
- Legal! – dizia você sorrindo, entre uma baforada e outra...
E já saíamos para outra e outra, e outra emissora de rádio...
Resultado: alguns locutores passaram a frequentar a Turma do Saco e ali eram sempre muito bem recebidos. Não deu outra, os espaços na mídia foram aparecendo e a Turma do Saco os foi ocupando, evidentemente. Daí foi só um pulo para o nosso bloco se transformar no melhor bloco de São Luís.
Quem não se lembra da roda de samba da Turma do Saco? Somos de uma época em que só havia três rodas de samba em São Luís. A da Turma do Saco, a do mestre Nonato (de Nonato e Seu Conjunto) e a do URTA. Assis, quando você viu as outras, achou que tínhamos que fazer algo melhor. Foi sua a ideia de chamar Macarrão, o músico de peso que precisávamos.
Assis, você também arranjava muitos contratos para a nossa roda de samba. Além disso, tocava, cantava, organizava e mobilizava-nos para cumprir contratos.
Apesar da importância que você tinha, da condição financeira acima da média dos jovens do bairro, você era um igual. Essa era a maior virtude de Assis, sempre se colocou como um igual, nunca quis ser um mais igual, jamais quis tirar o mínimo proveito de qualquer benefício que fizera à Turma do Saco. Assis era sobretudo uma pessoa íntegra, daquelas cuja simplicidade ilumina qualquer ambiente por onde passe.
Generoso, muitas vezes abriu mão da grana que lhe tocava como músico participante da roda de samba para que comprássemos equipamentos: caixas de som, microfones, contrabaixo, instrumentos de percussão (afoxé, agogô, surdo), pedestais, cabos, entre outros equipamentos.
Assis, certamente, o jovem componente da Turma do Saco de hoje, ao ler essa homenagem que te escrevo agora, estranhará e até se perguntará: - Será que isso é verdade mesmo? A Turma do Saco teve no passado uma roda de samba com músicos como Macarrão, Charles Nazaré, Leo, César, Fussura, Rogério Guaianaz, Zeco Quim, Assis, Luís Prego? Teve, e teve mais: essas pessoas passaram e foram abrindo caminho para Valber, Nato, Lelé, Laurindo, Acrísio, Cosme e tantos outros.
Meu caro amigo, você não passou por esta vida em vão, veio, viveu, vivenciou e foi um ativo participante dos melhores momentos que eu passei, ou melhor, que eu vivi no bairro do Codozinho e, consequentemente, na Turma do Saco.
Agradeço ao nosso bom Deus pela oportunidade da convivência com você e, o melhor, de ter o prazer da sua amizade. Você era um cara bacana. Um bom amigo, um excelente filho, e tenho a certeza que também foi um excelente marido e um excelente pai.
Amigão, tenho plena certeza que o patrimônio que deixaste para os teus filhos jamais se dissipará; pelo contrário, esse, eles só poderão ampliar, porque o legado que deixaste é composto de humildade, sinceridade, integridade, generosidade, amor, solidariedade, e tantas outras virtudes. Meu caro, é justamente por isso que pessoas como você não passam, se eternizam em nossas mentes e em nossos corações. A simplicidade em ti se revestia de luz. Isso mesmo, você foi aqui um ser de luz. Por onde passaste resplandecias em bondade, em trabalho.
Jamais esqueci as madrugadas em que terminávamos de tocar e íamos aliviar o estômago na Peixaria Carajás, lá no bairro do São Francisco. Outras vezes, quando o dinheiro estava muito curto íamos para o famoso Come-em-Pé, comer aquele mocotó.
Assis, onde estiveres, estarás compartilhando a tua luminosidade, enquanto aqui és uma saudade infinda, uma lacuna eterna, algo que somente uma palavra pode exprimir – ASSIS.
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